Uma coisa que já está meio clara com essa série é que, apesar dos novos textos geralmente serem semanais, não dá para vocês aprenderem tudo o que foi dito em uma semana. O motivo é simples: Magia envolve invocar muitas vezes, isto para parafrasear uma das mais importantes lições do Livro da Magia Sagrada de Abramelin. É assim que funciona o cérebro humano, seja na Psicologia, nas disciplinas escolares, na Academia, no Exército. O cérebro trabalha muito bem com rotinas, e quanto melhor planejadas e executadas, melhor a taxa de aprendizado. Esse é o real motivo das campanhas publicitárias terem tempo mínimo para serem veiculadas – e quando a empresa é boa, ela evita ao máximo mudar o slogan e a logomarca, tudo para seguir uma das máximas da Magia: Invocar muitas vezes.
Então, se você não é um cara que tem experiências místicas “naturais” (ver espíritos por aí, algum grau de telecinese, sonhos premonitórios, etc), o caminho mais natural envolve racionalidade, estudo e o uso de símbolos, justamente o que estou ensinando aqui. Em outras palavras: pratique, pratique e pratique, anote todos os resultados importantes e trace planejamentos de tempos em tempos.
É por isso que não reservei – e nem vou reservar – um capítulo intitulado Iniciação, ou algo do gênero. Primeiro por uma iniciação ser um processo contínuo na vida do mago, que a cada minuto é testado e passa por processos de aprendizado profundos e transformadores. E segundo porque iniciações ritualísticas no sentido físico não são nenhum um pouco comuns em estudantes individuais, e ocorrem com muito mais frequência em ordens esotéricas e magísticas – e o ritual de iniciação varia de ordem para ordem e (se a ordem é verdadeiramente magística) de pessoa para pessoa.
Sigilos e Servidores não são somente métodos mágicos individuais. Existe a possibilidade do uso de rituais em grupo para a criação de energias necessárias para dar força a um Servidor. Uma mostra é a lendária história de que Grant Morrison criou um Sigilo que impedisse de Os Invisíveis de ser cancelado e convidou os leitores para carrega-lo através de masturbação em um dia e hora pré-determinados. Até que ponto isso é verdade Eu não sei, mas o fato é que realmente as vendas da revista aumentaram depois. Obviamente que usar um ritual em grupo para uma tarefa que geralmente é pessoal não é um trabalho dos mais fáceis. Em primeiro lugar é necessário estabelecer um intento para o grupo, o que geralmente exclui pedidos de ordens materiais e similares. O grupo precisa possuir um objetivo mágico comum – a consagração de uma publicação, ou de armas, a criação de uma egrégora para influenciar os habitantes de um bairro, cidade ou país, e assim vai, as variáveis são praticamente infinitas.
Para algo assim dar certo, um grupo precisa criar o sigilo em conjunto, para não gerar nenhum tipo de desconfiança por arte dos outros integrantes, que podem achar que estão energizando um desejo puramente pessoal. Então, basta estabelecer um ritual mútuo, que pode ser ser feito no mesmo horário para todos (caso não estejam no mesmo local), especialmente na Lua Nova, numa segunda-feira, dia da Lua, com objetos em tom de azul ou roxo, de prata e com alguma espécie de fluído sexual, símbolo da fertilidade. Essas são só algumas possibilidades, todas associadas a Yesod, a esfera da Kabbalah identificada com a fertilidade e a criação.
Conheço poucos servidores coletivos. Posso dizer que o único que confio é Fotamecus, um servidor subversivo e viral – isto é, com a capacidade de multiplicar-se – que serve para criar formas de ludibriar o tempo, seja expandindo-o ou contraindo-o. Tá com pressa para chegar em casa? Use Fotamecus. Precisa de mais tempo para estudar no meio da madrugada? Clame por Fotamecus, que está em um eterno embate com Cronos, o deus do tempo linear e não dispensa um pouco de energia. Quanto mais adeptos, mais forte ele fica e mais energia de compressão/expansão (Yin e Yang, em outras palavras) possui e pode doar para os que o utilizam.
Fotamecus funciona como o eMule: quanto mais se doa energia para ele – através de um ritual de uso do Sigilo do servidor -, mais possibilidade de usa-lo se acumula. Obviamente que o grupo que o criou pode ter embutido alguma espécie de ganho energético pessoal com a visualização do Sigilo de Fotamecus, mas no fim, foda-se. O importante é que funciona. E bem, sem efeitos colaterais – ao menos não a curto prazo, talvez estejamos abrindo os portais para o Eschaton, nunca se sabe. Se alguém tá lucrando com isso, é porque fez algo bom e útil, ou foi bem esperto para convencer a outros que fez isso. Quer saber mais? Baixe e leia o manual de uso do Servidor e seja feliz.
Vamos a outro passo importante. Lembra dos nossos exercícios de meditação, Posição da morte e Banimento? É hora de mostrar outra utilidade para eles: a criação de um Templo Astral. Um Templo Astral é como um refúgio, e ao mesmo tempo, um lugar para operações astrais. Não é complexo de ser feito, muito pelo contrário, mas exige paciência, concentração, criatividade e inspiração.
Ache um lugar calmo, onde não será interrompido por uns 20 minutos. Sente-se com as costas eretas, e com as pernas umas sobre as outras, na Posição do Índio, meio Lótus (a posição de Ganesha) ou Lótus completa. Coloque as mãos sobre as coxas e firme a cabeça olhando pra frente. Encoste a língua no céu da boca para salivar menos. Eu chamo essa posição de Posição do Feedback Corporal, pois o corpo está completamente ligado, não há partes que não estejam posicionadas para fazer circular energia de volta para o próprio corpo. Feche os olhos.
Caso você não possa ficar sentado por um motivo qualquer, existe uma posição deitada usada por sufis e taoístas: deite de lado virado para a direita, dobre a perna esquerda formando um “4”, cruze os braços em forma de X sobre o peito, cerre os olhos e pressione fortemente a língua contra o céu da boca. É incômoda, mas fecha os principais pontos de entrada do corpo e também serve como forma de manter a energia circulando.
Respire fundo, em um ritmo contínuo da forma que ensinei lá na Parte 1. Mantenha por uns dois minutos. Relaxe todo seu corpo sem pressa até só prestar atenção a sua respiração. Depois comece a moldar seu Templo Astral, que será a base de suas operações no outro Plano, e que, se fizer direito, pode dispensar vários rituais no Plano Físico, se necessário – Eu não dispenso pela diversão que eles trazem, e pelo simbolismo e preparação, que são sempre interessantes.
Um Templo Astral pode ser qualquer coisa, solte sua imaginação. Lembra da cacofonia sem limites de Immateria, o Plano Superior da Imaginação de Promethea? É aquilo, nesse Plano você pode tudo, basta imaginar e visualizar. Pode ser desde uma sala cheia de TVs, fios e gambiarras tecnológicas baratas e decadentes, até uma caverna com tochas e poções. Se curte natureza, pode ser uma pequena cabana no meio do mato, se gosta de cidade, imagine uma cobertura de um prédio. Dá pra emular locais de seus games ou filmes favoritos também. Use sua imaginação, ela não tem limites.
No início, o lugar será pequeno, por motivos óbvios. Mas se prenda nos detalhes: paredes, decoração, pinturas, cheiro, móveis. Quanto mais associações cognitivas criar, mais fácil será voltar a ele. Pela minha experiência, somente dois itens são indispensáveis nessa primeira construção: um altar e uma cama. Imagine-se nesse local por uns cinco minutos. Quando for embora, deite na cama e durma.
Simples, acabou! Agora é só alimentar seu Templo com sua energia mental sempre que precisar. Com o tempo ele crescerá, tomará formas que você não imagina, ganhará anexos quando você trabalhar outras linhas de Magia, entre coisas similares. O importante é você visita-lo todo o dia. Tome isso como um exercício de paciência e persistência. Visualize tudo com o maior grau de realismo possível. Meu Templo cresceu enquanto Eu consagrava meu deck de Tarot e precisava visita-lo todos os dias e criava correspondências físicas para ele no Plano Material. Esse tipo de materialização e referência na Terra é sumamente importante. Se puder/quiser, anote os detalhes que criou para seu Templo em seu Diário Mágico.
Fique pelo menos duas semanas preparando seu Templo e o fortificando (passo mais detalhes sobre isso no próximo texto). Então, é hora de se armar. Armas Mágicas, assim como muita coisa de que falei aqui, não pode ser resumido levianamente, então tenham em mente que o que coloco aqui é abreviado, e em breve farei um post somente com referências bibliográficas para vocês estudarem por uns bons tempos, caso estejam a fim. Mas, podem ir se adiantando e lendo dois meus dois blogs favoritos sobre o assunto: o Teoria da Conspiração e o Morte Súbita. Fucem, fucem de verdade e sejam felizes.
Armas Mágicas tem relação com os quatro elementos da natureza, que estão relacionados com os quatro aspectos principais do corpo. São elas, a Taça, a Espada, o Pentáculo e a Baqueta (ou varinha).
A Taça corresponde ao elemento água, e ao mundo das emoções. A correlação é óbvia, já que Magia trata de Vontade sobre o Macrocosmo (e consequentemente sobre o Microcosmo), a Taça segura a água emocional de forma racional e representa a atuação da Vontade sobre suas instáveis emoções. Emoção está associado com a água por ser igualmente imprevisível e difícil de se lidar. Também está associado a Lua – que exerce controle sobre as marés -, a esfera de Yesod, da Kabbalah e ao Inconsciente instintivo. O orixá Iemanjá está associado a esse elemento, assim como as deusas da Fertilidade, como Diana. É usada para a preparação de compostos líquidos, entre outras utilidades.
Já a Espada – alguns utilizam Adagas, o que simbolicamente também está correto – corresponde ao Ar, e ao mundo da mente e do pensamento. Sua relação com esse elemento está no fato do uso da Linguagem, que é como uma arma invisível como o ar e cortante como a Espada. Essa arma representa a canalização dessa energia mental, linguística e invisível. É utilizada para traçar Sigilos, marcar velas, entre outros.
O Pentáculo representa o elemento Terra e o corpo físico. Um Pentáculo possui o Pentagrama, símbolo do equilíbrio entre os elementos. Representa a riqueza material e atuação mágica no Plano Físico. É utilizado em rituais de prosperidade, e de atuação essencialmente física, de ordem financeira, profissional, entre outras.
Por último, a Baqueta, que representa o elemento Fogo, o Espírito. A associação com o Fogo vem do fato das baquetas serem a base para tochas, fundamentais nos séculos passados. É a principal arma mágica de um Mago, quase um extensão de sua vontade, utilizado em toda a sorte de rituais.
Como utilizar detalhadamente essas Armas? E o Templo Astral? Onde os Sonhos entram nessa história? Nas próximas semanas, aguardem.
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