O mundo dos encantados é a Natureza, a Grande-Mãe, que acolhe em seu seio essa gama de seres, os mais diversificados possíveis, habitantes da terra, das águas, do ar e do fogo e, também, dos sonhos humanos, por onde muitas vezes se manifestam através de avisos, mensagens ou imagens cujo simbolismo nem sempre é fácil de traduzir, de assimilar ou, mesmo, bem compreender.
Uns, de aparência igual à nossa, porque entre nós viveram e, após cumprir a sua missão, morrer não morreram, encantaram-se ou foram encantados por um poder maior para que continuem a ver venerados e a exercer seu poderio de outros planos mais elevados, manifestando-se às pessoas através de outras (os médiuns, "cavalos", "aparelhos", "experientes", etc) ou por meio de "sinais", os mais variados ou, como já se disse, por sonhos.
Outros, fantásticos, posto que belos; uns, assustadores, de aparência beirando o repugnante, apresentam-se como são, realmente, ou metamorfoseados em humanos (homens, mulheres e crianças).
Chamados, igualmente de "entidades", encontram-se, entre os primeiros, os "caboclos e caboclas" (índios/índias), os boiadeiros(as) e, também, os "pretos(as) velhos". Entre os segundos, os "bichos-de-fundo" (boto, iara, as muitas "mães) e o povo da mata (matinta-perera, curupira, mapinguari, etc.). Menção especial será feita aos deuses-civilizadores e sua atuação, em um capítulo à parte, nesta obra. Estes serem habitam a terra, propriamente dita, as águas e as matas.
Uns, de aparência igual à nossa, porque entre nós viveram e, após cumprir a sua missão, morrer não morreram, encantaram-se ou foram encantados por um poder maior para que continuem a ver venerados e a exercer seu poderio de outros planos mais elevados, manifestando-se às pessoas através de outras (os médiuns, "cavalos", "aparelhos", "experientes", etc) ou por meio de "sinais", os mais variados ou, como já se disse, por sonhos.
Outros, fantásticos, posto que belos; uns, assustadores, de aparência beirando o repugnante, apresentam-se como são, realmente, ou metamorfoseados em humanos (homens, mulheres e crianças).
Chamados, igualmente de "entidades", encontram-se, entre os primeiros, os "caboclos e caboclas" (índios/índias), os boiadeiros(as) e, também, os "pretos(as) velhos". Entre os segundos, os "bichos-de-fundo" (boto, iara, as muitas "mães) e o povo da mata (matinta-perera, curupira, mapinguari, etc.). Menção especial será feita aos deuses-civilizadores e sua atuação, em um capítulo à parte, nesta obra. Estes serem habitam a terra, propriamente dita, as águas e as matas.
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O vento (elemento ar), em si, é o mensageiro, prenunciador de boas ou más notícias, acontecimentos, etc. Criado da "mãe-da-chuva" (Amanacy), em sua forma positiva é a brisa, a aragem matutina, vespertina e noturna; na sua forma destrutiva é o furacão, a ventania que invade todos os cantos e recantos, devastando o que encontra pelo caminho, indomável, impossível de ser controlado, sempre temido em sua fúria. No seu aspecto brincalhão quando, então, por assim dizer, é uma entidade autônoma, isto é, age por conta própria, muitas vezes chamado de "pé-de-vento" e até mesmo de caboclo Ventania (ou o "dono" do vento) surge para perturbar, principalmente, a vida das mulheres, levantando-lhes a saia, enrolando as roupas nos varais, desgranhando-lhes a cabeleira; assustando-as com um soprar rápido e gélido nos ouvidos ou nos cangotes, alertando-as, nesses casos, de que algo está para acontecer, seja de bom ou de mau; dando-lhes uma lufada no rosto, a modo um tapa, de raspão, é sinal de aborrecimento sério.
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Enquanto que para outras religiões, o fogo é o mais sagrado dos quatro elementos, sendo adorado em si ou simbolizando pelo sol e pelo raio, para o nosso índio e, por extensão, para o caboclo, carece de um significado importante ou especial.
O indígena brasileiro jamais considerou o fogo um elemento de punição, muito menos de purificação. Viu-o, sempre, através do lampejo do raio e, consequentemente, do estrondo do trovão, nem sequer como uma "entidade", mas e tão somente como a voz de um poder maior ou o "ser" que governava esse poder e o amedrontava. Nunca se soube, entre os nossos, da existência de um ritual ou de uma liturgia do fogo. Para o indígena, portanto, o fogo, em si, carece de qualquer significado que caracterizasse o bem ou o mal. Desconhece-se festa, tradição, crença ou qualquer cerimônia que prestigie esse elemento. Quem, posteriormente, atemorizou muito mais o índio com suas fantásticas histórias, foram os padres catequistas, a partir da idéia de inferno e purgatório, própria da religião cristã, mas, ainda assim, sem lograr totalmente o êxito que eles catequistas acreditavam conseguir.
O indígena brasileiro jamais considerou o fogo um elemento de punição, muito menos de purificação. Viu-o, sempre, através do lampejo do raio e, consequentemente, do estrondo do trovão, nem sequer como uma "entidade", mas e tão somente como a voz de um poder maior ou o "ser" que governava esse poder e o amedrontava. Nunca se soube, entre os nossos, da existência de um ritual ou de uma liturgia do fogo. Para o indígena, portanto, o fogo, em si, carece de qualquer significado que caracterizasse o bem ou o mal. Desconhece-se festa, tradição, crença ou qualquer cerimônia que prestigie esse elemento. Quem, posteriormente, atemorizou muito mais o índio com suas fantásticas histórias, foram os padres catequistas, a partir da idéia de inferno e purgatório, própria da religião cristã, mas, ainda assim, sem lograr totalmente o êxito que eles catequistas acreditavam conseguir.
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A manifestação através dos sonhos sempre foi destacada e importante desde os primórdios da humanidade. Destarte, os sonhos têm sido considerados por bruxos, xamãs, pajés e feiticeiros, em geral, como a forma mais confiável de obter-se uma visão do futuro.
Sonhar por três noites seguidas a mesma coisa é augúrio de que algo, inevitavelmente, sucederá. Eis aí um sonho de natureza profética que, se for bem interpretado, pode revelar acontecimentos próximos de modo direto ou simbolicamente.
Um sonho "elevado" é aquele onde a divindade (ou o aparecimento de imagens sagradas) apresenta-se e comunica-se, diretamente, com a pessoa em questão. No sonho "telepático", aquele que sonha capta mensagens ou energias do pensamento de outras pessoas, penetrando-lhes a mente para solucionar problemas ligados a situações atuais e de cunho imediatista. Os magos, em geral, utilizam-se destes sonhos para "prender" pessoas ou coisas e colocá-las sob o seu jugo. Um sonho "psíquico" contém avisos, mensagens e sinais importaníssimos e é sempre tão forte e tão profundo que acaba por despertar a pessoa que está sonhando pois o que lhe foi revelado exige sempre pronta ação para que tudo seja realizado a contento. O sonho "lúcido" é aquele que ocorre por vontade própria de quem está sonhando. É um sonho, por assim dizer, programado por alguém que deseja obter a compreensão máxima, por meios elevados, de algo que a esteja afligindo.
Os sonhos proféticos também podem sofrer um processo de indução através de meditações, de magia ritualística e de beberagens feitas com ervas e outros elementos, a forma mais comum, principalmente entre os xamãs e os pajés para alcançar a compreensão perfeita do que está por vir.
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Mas, é nas matas e nas águas que se encontra a supremacia dos encantados.
Assim, através do transe, da vibração e, máxime, da visualização é possível contactar-se com cada um deles. Para que tal aconteça sem perigo, é necessário uma boa preparação, maior disciplina e, principalmente, além do forte desejo, um real objetivo a ser concretizado. Entretanto, não existe, propriamente, uma hora determinada para tais acontecimentos. Explicando melhor: quando um "encantado" decide apresentar-se a alguém, seja para ajudar ou punir, ele, simplesmente, "aparece". As pessoas é que devem ter extremo cuidado porque esses "encontros", na maioria das vezes, trazem conseqüências funestas aos desprevenidos e despreparados. Tratam-se de energias fortes e poderosas que podem atuar (e atuam) positiva, negativa ou destrutivamente na pessoa dos desavisados. Ao invés, quem com eles sabe ligar, é agraciado com a prosperidade, a boa sorte e a fortuna tanto no plano material quanto no espiritual.
Assim, através do transe, da vibração e, máxime, da visualização é possível contactar-se com cada um deles. Para que tal aconteça sem perigo, é necessário uma boa preparação, maior disciplina e, principalmente, além do forte desejo, um real objetivo a ser concretizado. Entretanto, não existe, propriamente, uma hora determinada para tais acontecimentos. Explicando melhor: quando um "encantado" decide apresentar-se a alguém, seja para ajudar ou punir, ele, simplesmente, "aparece". As pessoas é que devem ter extremo cuidado porque esses "encontros", na maioria das vezes, trazem conseqüências funestas aos desprevenidos e despreparados. Tratam-se de energias fortes e poderosas que podem atuar (e atuam) positiva, negativa ou destrutivamente na pessoa dos desavisados. Ao invés, quem com eles sabe ligar, é agraciado com a prosperidade, a boa sorte e a fortuna tanto no plano material quanto no espiritual.
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Cada elemento da natureza tem o seu "dono", ou seja, seres encantados que protegem tudo quanto existe, da simples pedrinha, do pequenino curso d'água, da mais humilde planta e menor inseto às grandes formações rochosas, às majestosas cachoeiras, igarapés e rios, às mais frondosas árvores, ao maior dos quadrúpedes e das aves.
As águas e a floresta são sagradas. São, poder-se-ia dizer, um universo dentro da totalidade do Cosmos que deve ser respeitados e jamais violentado ou destruído. Infelizes daqueles que procederem à sua devastação. A natureza vinga-se e, certamente, as gerações futuras pagarão pelos erros das que as antecederam.
Os ancestrais cultuavam as árvores e, pelo que se sabe, essa foi a primeira forma de religião. Em tempos idos, sacrifícios humanos eram oferecidos aos espíritos da floresta em troca de proteção contra os infortúnios. Hoje, as coisas mudaram, mas o velho costume de bater-se na madeira com o nó dos dedos para afastar toda mazela, permanece.
Na história da humanidade, a árvore sempre representou a vida e a imortalidade e destaca-se em várias lendas antigas sendo um dos símbolos religiosos mais essenciais e, por isso mesmo, reverenciada por todos os povos do planeta.
Nos textos religiosos, em geral, árvores são mencionadas quer por suas deidades particulares, quer pelo poder que emanam, representativo da sabedoria do bem ou do mal.
Na Cabala Judaica a Árvore da Vida é um significativo diagrama místico de Deus, do Homem e do Universo. Não esquecer a Árvore que existia no Paraíso, cujos frutos, proibidos, não podiam ser consumidos. Todo mundo conhece a história. Entre os druidas, o santuário mais conhecido era o bosque sagrado de Derry e seu nome, até hoje, é invocado nas baladas célticas.
O Éden, o jardim sagrado dos índios, tem um nome sugestivo: NOÇOQUEN.
A lenda maué relata que, imemorialmente, existia esse jardim cuja guarda cabia a uma jovem e linda mulher ONHIAMUÇABÊ. Essa jovem, além de conhecer todas as plantas, servia-se de uma sabedoria esotérica que utilizava para defender-se, e não só a si, mas a toda a tribo, material e espiritualmente e, também, aos vegetais que estavam sob a sua proteção. Através dos tempos, essa sabedoria expandiu-se, mormente, entre as mulheres das diversas famílias indígenas e, se bem observarmos, ontem e hoje, a nativa amazônida não só conhece o valor terapêutico e mágico das plantas como sabe lidar com a multiplicidade de frutos, raízes e tubérculos, ampliando-lhes o sabor, o aroma e o poder de nutrição além de, muitas e, a bem dizer, a maioria possuir o dom de exorcizar forças maléficas e afastar, "prender" e neutralizar fluidos energéticos negativos/destrutivos advindos dos espíritos do ar, das águas, da terra e, principalmente do "mundo subterrâneo" no momento em que esses espíritos metamorfoseam-se em humanos, animais ou agem através de sonhos.
O deus-civilizador BAHIRA também habitava um lugar maravilhoso: o IKAVERA onde a vida era plena de felicidade; onde as plantas nasciam e cresciam sem precisar de cuidados; onde a morte não existia pois quando envelheciam ele e o povo que o acompanhava voltavam a tornar-se jovens; onde a profusão de flores e de pássaros era indiscutível.
Onde ficam esses sítios? Quem sabe? O certo é que, na selva, nesses lugares cuja localização é secreta e somente alguns índios conhecem, realmente "vivem" todos os seus deuses e heróis-de-cultura, as plantas e os animais. Uns dizem que esses paraísos ficam a leste, outros, a oeste; que a viagem até lá dura um mês ou um ano.
Muitos exploradores lá tentaram chegar e a maioria fracassou. Poucos alcançam a ventura de encontrá-los. Menos que poucos, alguns raros podem lá penetrar.
As águas e a floresta são sagradas. São, poder-se-ia dizer, um universo dentro da totalidade do Cosmos que deve ser respeitados e jamais violentado ou destruído. Infelizes daqueles que procederem à sua devastação. A natureza vinga-se e, certamente, as gerações futuras pagarão pelos erros das que as antecederam.
Os ancestrais cultuavam as árvores e, pelo que se sabe, essa foi a primeira forma de religião. Em tempos idos, sacrifícios humanos eram oferecidos aos espíritos da floresta em troca de proteção contra os infortúnios. Hoje, as coisas mudaram, mas o velho costume de bater-se na madeira com o nó dos dedos para afastar toda mazela, permanece.
Na história da humanidade, a árvore sempre representou a vida e a imortalidade e destaca-se em várias lendas antigas sendo um dos símbolos religiosos mais essenciais e, por isso mesmo, reverenciada por todos os povos do planeta.
Nos textos religiosos, em geral, árvores são mencionadas quer por suas deidades particulares, quer pelo poder que emanam, representativo da sabedoria do bem ou do mal.
Na Cabala Judaica a Árvore da Vida é um significativo diagrama místico de Deus, do Homem e do Universo. Não esquecer a Árvore que existia no Paraíso, cujos frutos, proibidos, não podiam ser consumidos. Todo mundo conhece a história. Entre os druidas, o santuário mais conhecido era o bosque sagrado de Derry e seu nome, até hoje, é invocado nas baladas célticas.
O Éden, o jardim sagrado dos índios, tem um nome sugestivo: NOÇOQUEN.
A lenda maué relata que, imemorialmente, existia esse jardim cuja guarda cabia a uma jovem e linda mulher ONHIAMUÇABÊ. Essa jovem, além de conhecer todas as plantas, servia-se de uma sabedoria esotérica que utilizava para defender-se, e não só a si, mas a toda a tribo, material e espiritualmente e, também, aos vegetais que estavam sob a sua proteção. Através dos tempos, essa sabedoria expandiu-se, mormente, entre as mulheres das diversas famílias indígenas e, se bem observarmos, ontem e hoje, a nativa amazônida não só conhece o valor terapêutico e mágico das plantas como sabe lidar com a multiplicidade de frutos, raízes e tubérculos, ampliando-lhes o sabor, o aroma e o poder de nutrição além de, muitas e, a bem dizer, a maioria possuir o dom de exorcizar forças maléficas e afastar, "prender" e neutralizar fluidos energéticos negativos/destrutivos advindos dos espíritos do ar, das águas, da terra e, principalmente do "mundo subterrâneo" no momento em que esses espíritos metamorfoseam-se em humanos, animais ou agem através de sonhos.
O deus-civilizador BAHIRA também habitava um lugar maravilhoso: o IKAVERA onde a vida era plena de felicidade; onde as plantas nasciam e cresciam sem precisar de cuidados; onde a morte não existia pois quando envelheciam ele e o povo que o acompanhava voltavam a tornar-se jovens; onde a profusão de flores e de pássaros era indiscutível.
Onde ficam esses sítios? Quem sabe? O certo é que, na selva, nesses lugares cuja localização é secreta e somente alguns índios conhecem, realmente "vivem" todos os seus deuses e heróis-de-cultura, as plantas e os animais. Uns dizem que esses paraísos ficam a leste, outros, a oeste; que a viagem até lá dura um mês ou um ano.
Muitos exploradores lá tentaram chegar e a maioria fracassou. Poucos alcançam a ventura de encontrá-los. Menos que poucos, alguns raros podem lá penetrar.
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Poderoso é o reino das águas e a sua magia. Um universo à parte cujos mistérios são difíceis mas não impossíveis de alcançar. Lembrar que uma das ancestrais da autora deste texto "via" e tudo conseguia com um copo d'água e uma vela. Água de igarapé. Sendo maior o problema, a contemplação silenciosa à beira de uma cacimba límpida (um poço sagrado) dava-lhe a pronta solução, fosse qual fosse a mazela. A água, no dizer de uma grande personalidade cristã Francisco de Assis é a nossa irmã mais humilde pois ela se suja para nos limpar. Entretanto, entre os nossos índios, infeliz daquele que suja, contamina, violenta as nossas águas.
Os YACYUARUÁ, ou "Espelho da Lua" (o lago sagrado das Amazonas) estão, por assim, dizer, espalhados por toda a região e é neles que as pajés, as "experientes", as rezadeiras e curandeiras vão mergulhar nos segredos e aprender a sabedoria dos encantados para bem resolver os problemas dos que as procuraram.
Assim foi. Assim é. Assim será. Sempre.
Os YACYUARUÁ, ou "Espelho da Lua" (o lago sagrado das Amazonas) estão, por assim, dizer, espalhados por toda a região e é neles que as pajés, as "experientes", as rezadeiras e curandeiras vão mergulhar nos segredos e aprender a sabedoria dos encantados para bem resolver os problemas dos que as procuraram.
Assim foi. Assim é. Assim será. Sempre.
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